Eu estava tão bem e confortada. Meus
olhos podiam ver tão bem aquilo tudo. E eu afagava seus cabelos, como eu sempre
quis e nunca tive coragem de fazê-lo. Parecia que você gostava, e então eu
continuei com minha mão ali, no couro cabeludo que eu sempre quis tocar.
Se o meu coração falasse, acho que
neste exato momento ele estaria gritando, no êxtase que era aquela emoção,
nesse momento que eu não irei nunca esquecer, e que eu queria que durasse pra
sempre. Aquele barulho, o tal ‘turu-turu’, estava presente ali, de novo — na
verdade ele nunca me deixa quando estou perto de você, e talvez você já saiba
disso, ou pelo menos já devia saber.
A carícia parecia tão boa pra você que
seus olhos se fecharam, naquele rosto lindo de anjo, e um sorriso — tão verdadeiro
e lindo — se formou em sua face. Eu continuava a não acreditar.
Mas era tão real.
O meu coração continuava a bater
forte, feliz por ter você perto, tão perto que eu podia ouvir sua respiração, e
respirar também, já que o meu estava tão perto: você. Ou não respirar... Me
faltava o oxigênio por você estar aqui.
Era como se borboletas voassem no meu
estômago. ‘Você me faz tão bem’ — não sei se eu sussurrei isso ou se só pensei
que ia dizer.
E eu só sei que você me faz tão bem! É
como se aquele fosse o meu lugar para sempre, o lugar que eu fui feita pra
estar.
Talvez meu colo seja quente. Você
parecia estar bem confortável ali, e eu espero que tenha se sentido feliz
naquele momento como eu me senti. Seria demais pra eu saber que você estava ali
apenas pra me agradar.
Tudo que eu conseguia ver era o seu
rosto, e eu pude me lembrar daquela música ‘Magic’*, era exatamente assim que
eu me sentia. Eu queria o seu toque também, como mágica pra mim. Mas eu
realmente não imaginava que você podia ler meus pensamentos. Eu já havia
ouvido, quando um amigo seu disse, que nós tínhamos sintonia, mas não esperava
que fosse assim.
Como em resposta ao meu carinho, um
‘pagamento’, muito mais alto e caro, pelo que eu fiz, na verdade algo que eu
certamente não merecia, então você me beijou, tocou os seus lábios nos meus da
forma mais linda e inesperada. Eu não havia percebido que você tinha levantado
do meu colo, foi tão rápido que meus sentidos não alcançaram a ação a tempo.
Eu só pude sentir o toque da tua boca
na minha, o hálito perfeito, o som de sinos a tocar na minha mente e do meu
coração acelerando ainda mais, como a eterna apaixonada por você, eu não ia
conseguir mantê-lo no meu peito por muito tempo, ele ia explodir. Era o gosto
mais perfeito, meu paladar pôde provar algo melhor, muito melhor que
chocolate... Será que haveria outra vez? (Ou haverá?) Você sentiu o mesmo que
eu? Será?
Meu beijo apaixonado, no meu melhor
amigo, o que mais poderia eu querer? Por acaso eu merecia tanto?
Eu tenho certeza que poderia haver qualquer
coisa ao meu redor e eu não perceberia. Eu estava tão concentrada. Ou melhor,
não haveria outra coisa par se concentrar, se aquele momento era o mais lindo
da minha vida.
Infelizmente um beijo não dura para
sempre, e aquele, tão nosso, tão seu, e mim, como algo que eu também não
esperava, acabou. Meus olhos ainda fechados e a minha boca ainda aberta
esperavam mais, apaixonadamente. Fiquei assim por um momento, e, no meu
retardamento mental, mordi o lábio inferior, percebendo que eu não teria mais,
pelo menos não naquele momento. Certamente ele estaria ali me olhando, e eu
ali, de boca aberta. Eu corei, sabendo que estava parecendo boba por isso.
Resolvi abrir os olhos, mas tremi ao
pensar que veria uns olhos de reprovação, o que também poderia não acontecer —
quem sabe ele também não estava de olhos fechados? — ou ele riria de mim, o que
podia não ser tão ruim, se ele tivesse gostado do nosso beijo também...
Mas uma hora eu teria de abrir os
olhos, e eu resolvi não protelar essa situação. E, ainda mordendo o lábio, eu
acordei.
---------------------------------------
*Magic – Colbie Caillat
Nota da escritora: Este conto foi criado a partir de um sonho que eu tive. É antigo, e teve algumas reformulações para ‘caber’ no blog. Afinal, as coisas mudam e a forma de escrever acaba mudando com o tempo também, amadurecendo junto com o autor.